Simulação RTP
Posição 1
Grupo: Afonso Gomes, Luísa Mendonça, Maria Margarida Gonçalves, Nelson Esteves, Rafaela Pimenta, Ricardo Gonçalves
O Futuro da RTP: A Concessão a Empresa Pública como a melhor
solução
A RTP é hoje uma SGPS, desde a fusão da Rádio Difusão
Portuguesa com a Rádio e Televisão Portuguesa. Estas formam, em conjunto com
muitos outros canais de referência como a RDP África, a RTP Internacional, os
serviços Madeira e Açores e muitos outros, o grupo RTP: Rádio e Televisão de
Portugal. Este é o bastião do serviço público de Comunicação Social no nosso
país, o qual tem sido muito falado e discutido, erguendo-se mais uma vez na
discussão o binómio Interesse Público versus Eficiência Económica.
De facto, falar da RTP é falar de cerca de 1000 trabalhadores
directos e outros tantos indirectos. Falar da RTP é falar de uma empresa com um
capital social na ordem dos 1.077.873.340,00€. Falar da RTP é falar de uma
empresa que se insere perfeitamente na noção de Empresa Pública, patente no
Artigo 3º do Decreto-Lei nº 558/99, de 17 de Dezembro, parte do Sector
Empresarial do Estado, o qual detém 100% do capital da empresa. Este é um valor
que corresponde somente a 0,14% das participações do Estado no Sector Público
Empresarial, segundo dados recolhidos no sítio da Internet da Direcção-Geral do
Tesouro e Finanças.
Muito, e cada vez
mais, fruto da crise económica, social e financeira que atravessamos enquanto
nação, a RTP tem sido falada e discutida em praça pública sendo possível
retirar das bocas dos comentadores políticos, de ex-ministros e secretários de
estado, de figuras públicas, de académicos e sindicalistas uma panóplia de
diferentes teses e considerações mas que normalmente pecam pelo mesmo vício: A
desinformação. Este fenómeno, cada vez mais comum na nossa sociedade, é
patrocinado pelos grandes grupos de interesse, políticos e económicos, que procuram,
com discursos demagógicos e sofistas, lançar a confusão social, para desarmar o
Povo dividido e sem capacidade nem tempo para reflectir. Assim, deixa-se a
decisão de mudar ou não um dos baluartes da democracia, na totalidade, a estes
grupos de interesse que mais não fazem do que inquinar a discussão económica e
jurídica com laivos de pensamentos ideológicos que não têm sentido. O país lá
por estar em Estado de Emergência financeira, não o está juridicamente e, como
tal, não devemos suspender a ordem e serenidade de pensamento, privilegiando a
decisão apressada e, indubitavelmente, errada.
Com este parecer, procuraremos clarificar a situação real da
empresa RTP, SGPS, com dados fidedignos e oficiais, com opiniões de quem
esteve, efectivamente, por dentro dos já falados processos de Reestruturação da
Empresa, debruçando-nos sobre três frentes: Em primeiro lugar, a
sustentabilidade económica, analisando relatórios de contas e pareceres que reflectem
bem a situação actual e a evolução e progressos do grupo nos últimos anos. Num
segundo plano, vamos procurar dar a conhecer a realidade social e profissional
da Empresa, olhando para as audiências da mesma, face aos seus homólogos
privados. Por último caberá olhar para a realidade jurídica que envolve a RTP;
a realidade constitucional, a realidade comunitária, a realidade internacional
e o conteúdo do contrato de concessão assinado pelo Estado Português e a
Empresa Pública, nunca perdendo de vista o conjunto RTP e não só a Televisão,
nem apenas o primeiro canal, não deixando também, neste último ponto de dar
prevalência à questão mais importante: o Serviço Público.
·
A RTP, realidade económica
A realidade da RTP em termos económicos e financeiros, não é
dourada. Não é possível traçar um quadro de brilhantismo económico, mas também
não é possível descartar o impressionante percurso de recuperação económica que
esta empresa tem encetado. Há dez anos, quando tomava posse Nuno Morais
Sarmento como Ministro da tutela, a RTP registava resultados absolutamente
vergonhosos, mostrando-se um exemplo cabal do esbanjamento de dinheiros
públicos, um exemplo da “gazeta” do gestor público. A RTP entre 2002 e 2005
registava custos na ordem dos 400 milhões de euros, entre a RTP e a RDP, uma
dívida de 1300 milhões de euros, espalhada por vinte e sete bancos, capitais
próprios negativos de 400 milhões e com as suas audiências em queda em cerca de
25,7% no grupo público todo. Um quadro absolutamente negro, com o qual se
deparou o antigo Ministro da Presidência. Também aqui se ouviu falar de
privatizações, também aqui o primeiro instinto não foi resolver o problema, foi
passá-lo para as mãos de outro, lavando como Pilatos as mãos da Administração
Pública, má gestora.
Nesta fase foi necessário arregaçar as mangas e refundar o
Serviço Público de Comunicação Social. Aprovou-se um Acordo de Reestruturação
Financeira, segundo o qual os dois grupos, RTP e RDP, se fundiram num só tendo
como sede a Avenida Marechal Gomes da Costa. A nível de redução de custos, foi
necessário cortar em 1200 o número de trabalhadores, renegociar da dívida com
os bancos e a criar protocolos com os outros canais privados para que também
eles assumissem algumas das funções do serviço público (linguagem gestual,
produção nacional, local e independente, publicidade institucional, etc.).
Desde 2003 que este plano de sustentabilidade económica e financeira (PSEF) tem
sido seguido, contando também com apoios a nível europeu. Os resultados são
incríveis: Em 2010, os registos operacionais da empresa foram de 22,6 milhões de
euros, mais 19,7 milhões que em 2009, registando um crescimento na casa dos
690,1%; em termos de custos operacionais, registaram-se menos 5,4%, uma
poupança na casa dos 16,6 milhões de euros; os rendimentos operacionais, esses
aumentaram 0,9%, um acréscimo na ordem dos 2,6 milhões de euros; no tocante a
custos registou-se: i)um aumento de 6,0% em custos de grelha (mais 6,4 milhões
de euros); ii) registaram-se menos 9,0% com custos com pessoal (menos 10,1
milhões de euros); iii) diminuíram também os custos com fornecimento de
serviços em cerca de 9,4% (o que se traduz em menos 5,4 milhões de euros em
gastos). Mas a recuperação não fica por aqui, já que o Grupo registou em 2010,
fruto da aplicação continuada do PSEF, lucros na casa dos 15,1 milhões de euros,
mais 39, 1 milhões que em 2009, quando se havia ainda registado prejuízos de
24,2 milhões de euros. A dívida bancária diminuiu em 8,3 %, uma redução de 117
milhões de euros, estando o seu total na ordem dos 700 milhões de euros, menos
600 milhões que em 2003. Os capitais próprios da empresa aumentaram, de 2009 a
2010, cerca de 135 milhões de euros, ficando nos -554,2 milhões de euros. Em
2011 o crescimento continuou e a empresa registou lucros de 13,7 milhões de
euros, menos 40% que em ano anterior, mas, ainda assim, mais do que seria
expectável dada a crise económica e a subida dos juros. Para 2012 a previsão
era de uma redução de custos na ordem dos 3,2 milhões de euros cumulada com uma
queda nos proveitos comerciais em cerca de 7 milhões de euros.
O que retirar de todos estes dados? O Conselho de Opinião,
organismo competente para comentar e analisar os relatórios de contas da RTP, é
cauteloso e realista mas ao mesmo tempo optimista. De facto, Portugal
beneficiou da aprovação do plano Eurogreen
por parte União Europeia, com novas técnicas contabilísticas, e de fundo
comunitários; de facto alguns dos valores registados foram conseguidos à custa
do redimensionamento da empresa, com despedimentos e cortes salariais, todavia,
isso não deixa de evidenciar o papel refundador das medidas tomadas. A empresa
está a mudar e a adaptar-se às exigências dos novos tempos. Essencial seria
antecipar a nova renegociação da dívida aos bancos para retirar esse peso
externo das contas da RTP.
·
A RTP, realidade social
A RTP é um grupo que trabalha para as pessoas e pelas
pessoas, fá-lo porque é propriedade pública, é património colectivo e não pode
deixar de o ser. Com um share de
audiências que a tornou, em 2011, pela 6a vez consecutiva líder de mercado, com
um total de quota de 27,8% no conjunto dos seus serviços de programas (RTP1,
RTP2, RTP África, RTP Memória e RTP Informação), relativamente à SIC e TVI (que
apresentaram, no mesmo ano, um share de 26,9% e 26,4%, respectivamente), a RTP
mantém ainda a liderança de audiências em todos os grupos horários, devido
sobretudo à larga abrangência de programação pluritemática que vai ao encontro
de diferentes interesses de públicos diversos e faixas etárias variadas. É
precisamente com este propósito de chegar a cerca de 10.562.178 pessoas e de interagir com a sociedade civil em geral que a RTP procura garantir
a possibilidade de acompanhamento das emissões por pessoas com necessidades
especiais, nomeadamente através do recurso à legendagem ou à interpretação por
meio de língua gestual.
Na rádio, a RTP procura a mesma abrangência e proximidade, a
mesma diversificação programática e a mesma independência. Com a sua vasta rede
de estações, Antena 1, Antena 2, Antena 3, RDP Internacional, RDP Madeira e
Açores, RDP África em diferentes comprimentos de onda e formatos, com o abraçar
da tecnologia digital, a RDP está no topo em termos tecnológicos e temáticos.
Com um share de audiência de 9,3 %
por cento é o terceiro grupo mais escutado na cena nacional, tendo na Antena 1
o seu maior suporte.
A questão das audiências é um ponto sempre sensível e sujeito
a leituras diversas. A verdade é que o Grupo RTP não pode descorar a voz dos
ouvintes (algo que não faz com recurso a figuras como o Provedor do Ouvinte e
do Telespectador) mas não pode esquecer que deve manter a sua diversidade, que
tem como consequência uma necessária quebra em termos subjectivos. Não pode a
televisão pública cair na pérfida ficção nacional ou internacional sob a forma
de novela, ou nos “reality shows” que tantas horas ocupam noutros canais
generalistas; nem pode tão pouco a rádio pública ser um veículo de playlists
infindáveis com intervalo para publicidade (que lembramos, a rádio não tem). O
serviço público tem obrigações e só pode movimentar-se dentro delas.
·
A RTP, realidade jurídica
Tomando como mote o último segmento, do ponto anterior,
seguimos analisando o Grupo RTP como garante do Serviço Público de Rádio e
Televisão. Recaem na esfera jurídica da RTP como empresa pública detida pelo
Estado uma série de obrigações; umas, de ordem constitucional, que obrigam o
proprietário, o Estado; outras, de ordem jusinternacional; outras, de ordem
legal obrigam ambos; e ainda outras de ordem contratual criam direito que marca
o conteúdo do conceito indeterminado de Serviço Público.
Desde logo salta à vista um documento, para alguns esquecido
numa estante alta, cheio de pó, a chamada Constituição da República Portuguesa.
Esta, no seu artigo 38º número 5, determina a imperatividade do Estado
assegurar a existência e o funcionamento de um serviço público de rádio e
televisão. O seu número 6 marca a necessidade de uma independência do poder
político, em primeiro lugar, mas também uma necessária independência de outros
grupos de interesse, privilegiando a ”possibilidade de expressão e confronto
das diversas correntes de opinião”, algo que apenas o serviço público
concessionado a empresas públicas pode fazer.
Olhemos agora para um documento essencial neste nosso estudo,
o Contrato de Concessão do Serviço Público de Televisão. Este dispõe desde logo
que, nos termos do n.º 2 do artigo 50.º da Lei n.º 27/2007, de 30 de Julho (Lei
da Televisão), “O serviço público de televisão observa os princípios da
universalidade e da coesão nacional, da diversificação, da qualidade e da
indivisibilidade da programação, do pluralismo e do rigor, objectividade e
independência da informação, bem como o princípio da inovação”, e que a
concessionária deve, de acordo com esses princípios, “(…) apresentar
uma programação que promova a formação cultural e cívica dos
telespectadores, garantindo o acesso de todos à informação, à educação e ao
entretenimento de qualidade” (n.º 1 do artigo 51.º da Lei da Televisão). Desde
logo, é necessário colocar em cima da mesa as duas outras opções macro para o
destino da RTP, a concessão e a privatização, totais ou parciais, para tecer
algumas considerações; seria impossível confiar em qualquer um dos canais
generalistas pré-existentes a tarefa de representação do Serviço Público como
ele surge aqui descrito. O sector privado é dotado de características que não
se coadunam com a prestação de um serviço plural e isento, que privilegie a
cultura nacional, e que não se deixe influenciar pelos interesses económicos
que falam sempre mais alto. Basta lembrar a entrevista que deu Nuno Morais
Sarmento, na qual desabafava sobre a dificuldade de entregar certas funções de
cariz público à SIC e TVI, como a
linguagem gestual, a produção nacional, algumas janelas de programação para as
minorias, negociações que duraram um ano e meio, a troco de um minuto e meio de
publicidade. Este é um pequeno exemplo que evidencia bem a falta de preparação
do sector privado para receber o serviço público. Dois exemplos a nível
internacional de documentos jurídicos que aprovam o modelo escolhido em
Portugal são a Resolução do Conselho da União Europeia e dos Representantes dos
Estados Membros nele reunidos, de 25 de Janeiro de 1999, relativa ao serviço
público de radiodifusão, regista e reafirma aquele entendimento, acrescentando
que “um amplo acesso do público, sem discriminação e com base na igualdade de
oportunidades, a várias categorias de canais e serviços constitui uma pré-condição
necessária para o cumprimento das obrigações específicas do serviço público de
televisão” e que “Se deve manter e aumentar a capacidade do serviço público de
radiodifusão para oferecer ao público uma programação e serviços de qualidade, nomeadamente
através do desenvolvimento e da diversificação das actividades na era digital”;
e o Protocolo anexo ao Tratado de Amesterdão, de 10 de Novembro de 1997, salientando
que a “radiodifusão de serviço público nos Estados-Membros se encontra directamente
associada às necessidades de natureza democrática, social e cultural de cada sociedade,
bem como à necessidade de preservar o pluralismo nos meios de comunicação social”,
esclarece que “As disposições do Tratado que institui a Comunidade Europeia não
prejudicam o poder de os Estados-Membros proverem ao financiamento do serviço
público de radiodifusão, na medida em que esse financiamento seja concedido aos
organismos de radiodifusão para efeitos do cumprimento da missão de serviço
público, tal como tenha sido confiada, definida e organizada por cada um dos
Estados-Membros, e na medida em que esse financiamento não afecte as condições
das trocas comerciais, nem a concorrência na Comunidade de forma que contrarie
o interesse comum, devendo ser tida em conta a realização da missão desse
serviço público”.
Procurou-se com estes exemplos
mostrar que aos olhos da Constituição Portuguesa e dos compromissos assumidos
pelo Estado Português há uma obrigação de serviço público e que esta obrigação
só pode ser totalmente satisfeita se desempenhada pelo Estado, no caso pela
Administração Pública Indirecta. Do ponto de vista da prossecução do interesse
público a RTP passou por várias fases, e foi no passado um muitíssimo mau
exemplo de gestão pública. Era uma empresa endividada, pouco competitiva e de
baixa qualidade. Hoje, depois de um plano de restruturação assertivo, forte e
com metas muito ambiciosas, o Grupo RTP continua a quebrar barreiras e a
representar Portugal em todas as frentes. No desporto, na música, na cultura,
no comentário, na entrevista, no contraditório, no teatro, na produção
nacional, local e independente, no apoio a pequenas produções, no apoio à
juventude, no apoio à terceira idade, na divulgação no que de melhor tem
Portugal, dando voz e imagem a quem de outro modo não a teria, porque isso não
geraria receita, por tudo isto o serviço público é bem desempenhado. Do ponto
de vista económico, não é verdade que a RTP “esbanje dinheiro”. O Grupo é, em
termos relativos e absolutos, dos que menos gasta na Europa, em países como a
Alemanha e a Inglaterra os custos são trinta vezes maiores, e na Holanda ou
Bélgica, países da nossa dimensão, gasta-se três vezes mais. Não podemos
comparar a RTP à REN ou EDP, quando são coisas incomparáveis. O papel social da
RTP excede em muito o papel económico que ela pode desempenhar, e mesmo quando
falamos desse ponto devemos olhar para a empresa pública de comunicação social
como um exemplo a seguir e não a destruir. Um exemplo que deve ser reproduzido
em outras empresas públicas deficitárias. O caminho de recuperação que a RTP
vem encetando, reduzindo custos e aumentando ano após ano a qualidade do
serviço público, é de valorizar e não se entende como se pode sequer equacionar-se
a alienação de um património tão grande como este. Ao privatizar ou
concessionar todos nós nos arriscamos a perder algo. O sector público um
baluarte da cultura e da língua, o sector privado receitas e sustentabilidade,
já que a saturação do mercado publicitário, ganha-pão de SIC e TVI, é uma
realidade. O caminho certo é este, o da disciplina e o da consolidação, não o
da alienação. Progredir é aceitar os desafios e vencer, não é fugir deles.
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