domingo, 16 de dezembro de 2012

A PRETERIÇÃO DAS GOLDEN SHARES A FAVOR DAS AUTORIDADES REGULADORAS ADMINISTRATIVAS INDEPENDENTES





Sabendo que a golden share é um pacote de ações, normalmente minoritário, possuído pelo Estado e que essas ações de categoria específica contêm poderes especiais para além dos ordinários normalmente respeitantes à orgânica e a decisões fundamentais há que considerar os seus objetivos, funcionamento e eficácia.
Importa definir os fins do interesse público que o Estado tem de prosseguir no exercício dos poderes contidos nas respetivas Golden Shares. Estado interfere assim na empresa com o propósito da defesa da concorrência, da garantia da universalidade e igualdade de acesso, da qualidade e da continuidade do fornecimento de bens ou serviços públicos essenciais bem como da eficiência e equidade dos respetivos preços. Tutelando os interesses do consumidor.
Mas a limitação não acaba aqui. Já se disse que as golden share são um expediente excecional, há a acrescentar que elas se regem por um Principio de proporcionalidade. E este é ainda mais severo na sua limitação que o principio do interesse publico, e determina que o Estado só possa fazer uso dos poderes especiais contidos na golden share em casos extremos, em que a actuação de outros instrumentos como Autoridades Reguladoras Administrativas Independentes ou esquemas jurídicos associados aos contratos de concessão de serviço publico se revelem inoperantes ou insuficientes.
Sabendo que o fim ultimo é o da tutela do interesse dos consumidores, até que ponto a extensão do impacto económico nas empresas que advém das Golden Shares não é prejudicial ao próprio consumidor –aquele cujos interesses, deviam, em principio, ser tutelados?
A existência da Golden Share implica principio e menos confiança no desempenho da empresa pois as empresas sujeitas ao exercício de poderes estatais não constituem oportunidades atraentes de investimento porque aquele exercício é especialmente imprevisível e logo aqui, há uma grande perda de uma fonte essencial de capital.
A gestão da empresa com interferência pública é também, claramente mais defeituosa do que a gestão inteiramente privada que fomenta muito mais a concorrência e o aperfeiçoamento da gestão do que a Golden share alguma vez poderia.
A amplitude dos danos dependerá de que poderes existam e da extensão do seu conteúdo. Daqui se infere que o Principio da proporcionalidade imponha uma intervenção parcimoniosa, reduzida e prudente.
Embora existam portanto, de facto, efeitos danosos para aqueles que se pretende avantajar – o consumidor – existem formas de mitigar estas consequências, e a solução encontra-se justamente na prossecução séria dos Princípios do Interesse Publico e da Proporcionalidade.
Mas não será inútil a golden Share se o principio da Proporcionalidade a que está sujeita não só indicar sempre os meios menos danosos de exercer esses poderes mas também ainda no facto de impulsionar o exercício dos poderes em si contidos como ultimo recurso?
Seguindo este princípio que defende a golden share sempre em caso último, porque não recorrer muito mais facilmente a uma Autoridade Reguladora Administrativa Independente? Na ponderação de uma e de outra certamente a actuação das Autoridades Reguladores serão menos lesivas para o consumidor. As Ar servem precisamente os mesmo fins a que estão adstritas as golden shares: a tutela dos consumidores através da promoção da concorrência e da garantia de certos valores na prestação de serviços essenciais.
E que a actuação das AR consubstancia-se num primeiro momento normativo genérico e abstrato dirigido a determinado sector e num segundo na fiscalização do cumprimento dessas mesmas normas nesse sector.
Ora o que acresce a mais uma característica favorável das AR, afinal a regulação que emitem torna a sua actuação posterior previsível o que permite um investimento mais fácil de obter e uma actuação vista de forma mais positivo pelo mercado.
Há ainda que ressalvar que existe um movimento claro de devolução da atividade da regulação económica para entidades com um estatuto de independência perante o Estado o que evita a instabilidade inerente da Golden share que esta sujeita a ciclos eleitorais e a interesses partidários que, por sua vez, estarão também na eventual sujeição a lobbies económicos.
Assim implica-se que as AR serão mais vocacionadas para a independência e para a imparcialidade que as Golden Shares.
Assim as Golden Shares, perante as Autoridades Reguladoras pouca utilidade terão.

Helena Cardana, TA1, 21918

0 comentários:

Enviar um comentário